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Biblioteca Particular, Parte V

ANTÓNIO PRIOR DO CRATO (D.). CARTA AUTÓGRAFA dirigida a D. Diogo Botelho, [1581(?) ou 1589(?)], 15 de Setembro, assinada, 4 ff. em bifólios de papel, 6 pp. de texto; 320 mm..

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IVA: Sobre a comissão apenas

MANUSCRITO. ANTÓNIO PRIOR DO CRATO (D.)

CARTA AUTÓGRAFA dirigida a D. Diogo Botelho, [1581(?) ou 1589(?)], 15 de Setembro, assinada, 4 ff. em bifólios de papel, 6 pp. de texto; 320 mm..

Caixa em veludo vermelho com títulos a ouro na pasta anterior; carta em perfeito estado de conservação apenas com pequeno restauro para reforço das margens, sem afectar qualquer linha de texto; letra bastante legível e sem manchas; lacre em belíssimo estado de conservação; papel protegido com folha de pergaminho antigo que não lhe pertence.

MAGNÍFICO DOCUMENTO. Carta escrita por D. António Prior do Crato a D. Diogo Botelho, provavelmente no ano de 1589, logo após a tentativa falhada de desembarque das tropas inglesas em Lisboa, comandadas por Francis Drake. D. António havia já tentado o apoio da Raínha Isabel I sem sucesso, refugiando-se na corte francesa para o apoio necessário à resistência na Ilha Terceira. Fracassado este, D: Isabel manda chamar D. António a Inglaterra e aí se procurou organizar uma ofensiva, apenas retardada pela tentativa de conquista das ilhas britânicas por Filipe II e a sua Invencível Armada. Enfim em 1589 é encarregue Francis Drake, famoso corsário, da ofensiva que fracassou estrondosamente, regressando ao porto de Plymouth junto com D. António. A carta começa por relatar um encontro entre D. António e alguém não identificado a quem D. António expressa o desejo de se encontrar com a Raínha para cumprir com o "devido oficio de fazer reverência", de manifestar de forma clara que os portugueses não eram a causa de um insucesso — "apos iso [do oficio de reverência] para lhe desfazer com razões de que se elaa notase a mera enformação que tinha de averem procedido mal a nação portuguesa et se esa a causa do mao sucesso et de lhes porem nome de traidores" —, e de pedir alguma ajuda financeira. Mas se o pedido de audiência não pudesse ser satisfeito por algum impedimento da soberana, suplica D. António por esmola nos seguintes termos: "lhe pidia me fizese esmola de com q podesse desempenhar meus criados et mandalos et se ma quisese também fazer de ma dar algum entretenimento p.a poder esperar milhor tempo et com ese crédito ir buscar algum remedio me faria mui grande [..]". Estes dois assuntos da carta — o insucesso dos portugueses e a súplica por ajuda financeira — fazem crer como mais provável datação 1589, podendo o insucesso referir-se à incursão da armada inglesa nesse ano a Lisboa e a situação financeira e de desobrigação dos criados de D. António uma consequência desse facto. Outros sinais existem que podem ajudar a corroborar esta possibilidade, nomeadamente junto ao sinete lacrado, vem uma indicação manuscrita em língua francesa, com letra do século seguinte, que afirma "Lettre originale que le Roy Don Anthoine a escrit au Seigr. Dom Dieguo Bouttellio". D. Diogo Botelho esteve com D. António até à sua morte em 1595 em Paris. No entanto, também é verdade que já antes D. António havia estado em Inglaterra para tentar um primeiro apoio da coroa Inglesa em vez de França. Em 1581, por influência de D. Diogo, D. António tentou que a raínha Isabel I lhe prestasse auxílio na guerra contra D. Filipe II. Segundo a cronologia indicada por Veríssimo Serrão, que terá regressado a França a 30 de Setembro de 1581, mês que é o mesmo desta missiva. É também referido que D. Manuel, filho de D. António, partiu "com tenção de se valler do Conde de Essex". O Conde de Essex chegou a estar na expedição comandada por Francis Drake desobedecendo a Isabel, mas foi mandado regressar pela soberana. É verdade que o Conde manteve influência junto da raínha até 1599, mas parece pouco provável que D. António tentasse obter daí qualquer apoio tão próximo do fracasso de 1589. Mantemos por isso a ressalva quanto à data da missiva que só uma crítica mais apurada, impossível neste contexto, pode dissipar. Além de D. Manuel e do Conde de Essex, são referidos outros nomes na carta, em particular Francisco António, Francisco Gomes – "de ser preso Francisco Gomes me pesa eu procurarei de mandar as provisões que disseis" —, Manuel Fernandes, tesoureiro mor de D. António; Fr. José Teixeira, que havia estado preso em Lisboa depois da campanha da Terceira, tendo conseguido fugir em 1583 para França. Carta bastante interessante, e com algumas notas que podem ser interessantes para o estudo daquele período da história portuguesa.

SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, v. 4, p23 e seguintes