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Manuscritos & História

MANUSCRITO. [CRÓNICA DE D. SEBASTIÃO]. s. XVI.

O leilão começará em __ dias e __ horas

Preço base: €3,200

Comissão da leiloeira: 16%

IVA: Sobre a comissão apenas

MANUSCRITO. [CRÓNICA DE D. SEBASTIÃO]. s. XVI.

Manuscrito sobre papel, 199 ff.; 330 mm. Encadernação inteira de pele do século XVII ou XVIII, afectada pela traça; fólios de texto com algumas manchas e acidez provocada pela tinta, mas perfeitamente legível em toda a sua extensão, apresentando um pequeno corte de traça marginal nos primeiros dez fólios.

INFORMAÇÃO IMPORTANTE:

A Biblioteca Nacional informou-nos por ofício enviado dia 8 do corrente do potencial interesse neste lote ao abrigo do Direito de Preferência estabelecido na lei.

Importante manuscrito do século XVI contendo a Crónica de D. Sebastião que Herculano atribuiu a Fr. Bernardo da Cruz, mas que, segundo alguns investigadores, não pode ser deste autor.

O manuscrito é composto por 199 fólios não numerados, escrito com letra de finais do século XVI e um último fólio já do século XVII, bastante legível e com várias notas manuscritas marginais, coevas. Apresenta pequenos defeitos, em particular nos quatro primeiros fólios com cortes de traça marginais e alguma acidez.

No primeiro fólio é possível ler três inscrições. A primeira, uma assinatura “Mel Correa 593”, uma segunda assinatura “D. R.º da Cunha” e uma terceira inscrição, mais desvanecida, onde se pode ler o seguinte: «Este livro he meu e anda furtado ha mais de cinco annos. Não o dou a quem o tem e he obrigado a restituilo ou telo de meu beneplacito Mel Correa em 4 de Janeiro de 1609»

Parece, portanto, que o códice pertenceu a um tal Manuel Correa, impossível de identificar por nós e a D. Rodrigo da Cunha. Este é possível que seja D. Rodrigo da Cunha, bispo de Portalegre e Arcebispo de Lisboa, importantíssima figura da história da Restauração. Também é certo que o códice pertenceu à Biblioteca de José Nepomuceno, tendo sido vendido no leilão da sua Biblioteca e, mais tarde, na Biblioteca do Conde de Ameal, como se pode ver nas respectivas entradas nos catálogos.

Em nota manuscrita de José Nepomuceno inscrita na primeira folha de guarda, podemos aferir que o códice, depois de ter pertencido a Manuel Correa e a D. Rodrigo da Cunha, “foi comprado pelo Marquês do Lavradio e vendido com o resto da sua livraria pelo Banco de Portugal no dia 28 de Junho de 1876 e por mim comprado por 700rs.”

A autoria do manuscrito é bastante complexa. Nepomuceno atribui a obra a Agostinho Gavi de Mendonça, autor de uma “História do Cerco de Mazagão” e natural daquela cidade do Norte de África. Opinião que, segundo a mesma nota, foi partilhada por Cunha Rivara. Herculano, no entanto, quando publica esta crónica em 1837, atribui a sua autoria a Fr. Bernardo da Cruz, atribuição que o próprio Nepomuceno refuta em nota manuscrita no verso da folha de guarda. Já Queirós Veloso, em 1950, refuta também a atribuição feita por Herculano, atribuindo a obra a António de Vaena.

O argumento apresentado por Queirós Veloso é, parece-nos, bastante sólido na parte que refuta a autoria do texto atribuída a Fr. Bernardo da Cruz. Em particular, é posta em comparação a data da morte de Fr. Bernardo da Cruz, primeira quinzena de 1579, com referências temporais no texto. No capítulo 37, o texto refere-se à morte de Francisco de Sá de Menezes, conde de Matosinhos, que morreu em 3 de Setembro de 1584. No capítulo 87, ao referir-se ao valor do resgate que era devido ao Xerife para libertar fidalgos presos em Fez, é referida a era de 86, como ainda não tendo sido conseguido a totalidade do valor. Em suma, referem-se datas que Fr. Bernardo da Cruz não poderia ter sabido. Apresenta igualmente outros argumentos diplomáticos, em particular pelo estudo de vários manuscritos, quer os que Herculano viu, quer outros, mais antigos. Parece, portanto, que o autor desta crónica não será Fr. Bernardo da Cruz.

No contexto deste catálogo é impossível realizar os estudos paleográficos e diplomáticos que possam trazer mais alguma luz sobre o assunto. Podemos, no entanto, deixar algumas notas utilizando a edição de Herculano, a única a que temos acesso, como referência.

Este códice está todo em letra de finais do século XVI, início de século XVII. Ao comparar a ordem dos capítulos, eles surgem exactamente na mesma que foi publicada na edição de Herculano, não faltando nenhum. Também, na grande maioria dos casos, o texto do início e final de capítulos são iguais. Aqui, no entanto, é curioso verificar que o manuscrito possui várias emendas coevas ao texto inicial e são essas emendas que correspondem ao texto que Herculano publicou. Existem também algumas partes de texto que se apresentam riscadas neste códice, indicando o seu cancelamento. Esses cancelamentos, alguns deles de grande extensão, são de textos que estão em versões diferentes das que foram publicadas por Herculano. Existem algumas notas, também coevas, à margem do manuscrito. Finalmente, o códice possui uma folha final, com letra já do século XVII, em que acrescenta texto ao capítulo final da Crónica, texto que não aparece na edição de Herculano.

No contexto deste catálogo, é impossível determinar com certezas a precedência deste códice sobre os outros conhecidos, mas é seguramente um dos mais antigos e mais antigo que as cópias utilizadas por Herculano, tornando-o num valiosíssimo e muito precioso documento para o estudo deste texto.

A este factor, acrescenta-se a importância do próprio texto, escrito indiscutivelmente por um contemporâneo dos acontecimentos relatados, que conhecia muito bem a realidade e a história dos povos do Norte de África e que compreendeu cedo a centralidade da campanha de África no reinado de D. Sebastião.

Ameal, 2563; Nepomuceno, 1968 [este códice]; CRUZ, Fr. Bernardo da, Chronica de ElRei D. Sebastião, Lisboa, 1837; VELOSO, José Maria de Queirós, Estudos Históricos do Século XVI, Lisboa, Academia da História, 1950, pp. 135-196

 

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