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Biblioteca Particular parte VI

CARREIRA (Carlos Augusto Ferreira Pinto Basto). DIÁRIO DE VIAGEM: O Périplo d’África. 1924, 20 de Outubro a 1925, 11 de Junho

O leilão começará em __ dias e __ horas

Preço base: €300

Comissão da leiloeira: 15%

IVA: Sobre a comissão apenas

MANUSCRITO – CARREIRA (Carlos Augusto Ferreira Pinto Basto).
DIÁRIO DE VIAGEM: O Périplo d’África. 1924, 20 de Outubro a 1925, 11 de Junho.
3 cadernos manuscritos com 69 ff., 33 ff. e 56 ff.; e mais um bilhete de identidade de aluno da Universidade de Coimbra, um postal fotográfico do cruzador República, um mapa manuscrito do continente africano anotando a rota do cruzador República; menus e panfletos de vários eventos.
DIÁRIO DE VIAGEM INTERESSANTÍSSIMO referente à viagem realizada no âmbito da Divisão Naval Colonial criada em 1924 pelo ministro da Marinha de então, o Almirante Pereira da Silva e que teve por missão uma viagem em torno do continente africano. Num período político bastante conturbado que culminou no fim da primeira República, é chamado ao governo da Marinha Fernando Augusto Pereira da Silva, oficial da Marinha que havia sido chefe de gabinete do Ministro da Marinha em 1919. Preocupado com os problemas que Portugal e a Marinha passavam – ao ponto de afirmar que “havia um Ministério da Marinha, mas não havia Marinha” (cf. Revista da Marinha, Fev.2011) – cria, por decreto de 27 de Agosto de 1924, a chamada Divisão Naval Colonial que tinha por objectivo “treinar oficiais, guardas-marinhas, aspirantes com o curso concluído, sargentos e praças da armada nos serviços de navegação, prática profissional e técnica de marinha, conhecimento dos litorais das nossas colónias africanas, postos e vias fluviais, bem como utilização dos citados portos e vias fluviais para operações de guerra” (cf. Dec.10:040 de 27/08/1924, Artigo 1.º). Os objectivos traçados no decreto alcançar-se-iam através de uma viagem conhecida como “Périplo d’África” e que era uma viagem de navegação à volta do continente Africano. Desta divisão faziam parte o cruzador República, comandado por Quirino da Fonseca, as canhoneiras Bengo, Beira e Ibo e pelo Gil Eannes, um antigo navio alemão que depois da primeira Guerra esteve ao serviço da Marinha de Guerra, depois entregue aos Transportes Marítimos do Estado e, após a falência desta, de novo à Marinha de Guerra em 1924, pouco antes da criação e partida para a missão decretada para a Divisão Naval Colonial. A viagem foi anunciada e organizada com pompa e circunstância e, além do seu objectivo militar, cumpria um claro objectivo propagandístico que se percebe ao percorrer alguns jornais da época e os sucessivos eventos que foram sendo organizados ao longo da viagem. Não deixa de ser curioso o esforço financeiro que foi realizado para a empresa de tal modo que o próprio decreto de criação da Divisão a isso faz referência ao se escrever no preâmbulo que o Ministério da Marinha “precisa de proceder com economia” para que o périplo de África se realize dentro do orçamento do ministério, decretando que “após os exercícios que a actual flotilha ligeira está efectuando, serão os contratorpedeiros e torpedeiros que a compõem internados em docas, ficando com guarnições reduzidas durante o inverno” (cf. Dec. 10:040). O nosso diarista, autor do diário, começa a sua descrição alguns dias antes da partida. Segundo se percebe, fez parte da guarnição do cruzador República, estando o seu alojamento ocupado com 3 guarda-marinha e 1 aspirante, tendo mais tarde passado ao Gil Eanes, num alojamento a bombordo “bastante amplo e arejado”. Os navios largaram a bóia a 20 de Outubro de 1924, cerca das 14 horas, indo “fundearem a oeste da Torre de Belém”, com excepção do transporte Gile Eannes “devido a não estar ainda carregado” e, finalmente, num dia “chuvoso”, a 25 daquele mês, a Divisão Naval Colonial partiu em missão com a “honra da despedida” do Ministro da Marinha. A partir daqui são registos diários, escritos à flor da pena, cheios de impressões de viagem, descrição dos lugares, apontamentos etnográficos, etnológicos, acompanhados de muitíssimos desenhos com impressões de paisagem, mapas, retratos, etc., além das anedotas e episódios mais caricatos que se passavam nos navios onde se encontrava. Ao longo dos relatos vai fazendo referência aos eventos que se organizavam a bordo do República, como no dia 25 de Novembro de 1924, estando em Bolama, então capital da Guiné: “O Republica estava completamente iluminado e embandeirado visto haver recepção ao Governador. Fui até lá; dansou-se […]. FOram servidos cervejas, licores e champanhe. Vim para bordo às 2h da noite. Vinha alegre”. Ao mesmo tempo, o nosso marinheiro é bastante rigoroso nos apontamentos que faz quanto aos lugares por onde a armada passa. Por exemplo, no final do primeiro caderno de diário, está um aditamento realizado no final da viagem, onde se anotam todas as derrotas dos navios desde a partida de Lisboa até ao regresso. É possível, por isso, estabelecer um rigoroso roteiro da viagem que, saindo de Lisboa passou, nesta ordem, pelo Funchal, Mindelo, Bissau, Bolama, Santo António do Príncipe, S. Tomé, Cabinda, Santo António do Zaire, Rio Zaire, Luanda, Lobito, Benguela, Mossamedes, Porto Alexandre, Baía dos Tigres, Cape Town, Durban, Lourenço Marques, Inhambane, Beira, Moçambique, Zamzibar, Aden, Suez, Port-Said, Cairo, Alger, Tanger e Lisboa. Os dados biográficos do autor do diário são escassos. Por um documento que está incluído no conjunto de manuscritos, sabemos que Pinto Basto Carreira foi aluno da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, afcto que se pode comprovar no respectivo anuário da Universidade de 1919-1920 (disponível online no endereço https://digitalis-dsp.uc.pt). Desse registo, ficámos a saber que é natural de Leiria. Sabemos também que iniciou a viagem como rancheiro “o que para mim foi grande espiga”. Finalmente, consultando os arquivos da Marinha, sabemos que faleceu a 13 de Novembro de 1984. Documento importantíssimo e muito curioso sobre a Marinha portuguesa que nos dá ao mesmo tempo um registo e uma visão únicas do continente africano, visto pelos olhos de um marinheiro claramente instruído. bib: NEVES, Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves, “O Gil Eannes Entre a Guerra e a Paz” in Revista da Armada, Fev. 2011, Lisboa, Marinha, 2011; Diário de Lisboa, 11 de Junho de 1925 (consultado online na Hemeroteca); Decreto 10:040 de 27 de Agosto de 1924

 

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