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Biblioteca Particular parte VI

BRITO (Bernardo Gomes de). HISTORIA Tragico-Maritima em que se escrevem chronologicamente os Naufragios que tiveraõ as Naos de Portugal, depois que se poz em exercicio a Navegação da India. Lisboa

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BRITO (Bernardo Gomes de).
HISTORIA Tragico-Maritima em que se escrevem chronologicamente os Naufragios que tiveraõ as Naos de Portugal, depois que se poz em exercicio a Navegação da India. Lisboa Occidental: Na Officina da Congregação do Oratorio, 1735-1736.
2 v.; §-§§4, A-Z4, Aa-Zz4, Aaa-Ooo4; §-§§4, A-Z4, Aa-Zz4, Aaa-Xxx4, Yyy2 [1 br.]; [16], 480 pp., [16], 538, [2br] pp.; 205 mm. Bonito exemplar; encadernação moderna inteira de pele ao estilo antigo de enorme qualidade; ferros e títulos a ouro na lombada; duplo filete a seco nas pastas; ligeira acidez.
PRIMEIRA EDIÇÃO. A PRIMEIRA COMPILAÇÃO IMPRESSA NO MUNDO DA LITERATURA DE NAUFRÁGIOS. MUITO RARO. A obra foi compilada por Bernardo Gomes de Brito publicando um total de 12 relações de naufrágios da marinha portuguesa referentes, com excepção de um deles, à segunda metade do século XVI. Estas relações correspondem a um tipo de literatura único. Baseadas nos testemunhos de sobreviventes, relatavam os naufrágios com os seus episódios mais espectaculares, cativando os leitores dos textos publicados em forma de folhetos avulsos, dando por vezes origem a relatos heróicos, enaltecendo as façanhas e as qualidades heróicas dos portugueses. No entanto, a História Trágico Marítima, como realça Boxer e outros críticos, possui o valor único de ter coligido os relatos que priveligiam um “realismo cru no qual frequentemente são feitas descrições pouco edificantes da luta pela sobrevivência” (Boxer, p. 90), revelando quase uma anti-epopeia dos Descobrimentos contrastante com Barros, Couto ou Camões. A História Trágico Marítima tem, como realça Boxer, um triplo valor: literário, histórico e etnográfico. São vários os autores que classificam os textos como verdadeiras obras primas da literatura portuguesa, aspecto que é realçado desde logo por Inocêncio, mas também, Fidelino de Figueiredo e, principalmente, os artigos de Jordão de Freitas sobre literatura de viagens na História da Literatura Portuguesa Ilustrada de Albino de Forjaz de Sampaio (cf. História da Literatura Portuguesa Illustrada, v. 3) que colocam esta obra “no mapa da literatura” (Boxer, p. 90). No que respeita à leitura do texto como fonte histórica, Boxer não tem dúvidas em afirmar que “não pode haver duas opiniões sobre este assunto” (Boxer, p. 92). Escritas com franqueza e quase desprovidas de artifícios literários, estas relações mostram-nos os perigos e desconfortos da vida a bordo (cf. Boxer, p. 92). Finalmente, o valor etnográfico é realçado pelas descrições das tribos do Sudeste africano em alguns dos relatos. Ainda que tenham havido publicações ao longo do século XVII, especialmente pelos Holandeses, deste tipo de relatos, apenas em 1789 apareceu uma compilação com semelhanças às que foi publicada por Gomes de Brito. Trata-se da obra de Avocat, “Histoire des naufrages ou Receuil des Relations les plus intéressantes des Naufrages, Hivernemens, Délaissemsn, Incendies, Famines, & autres Evènemens Funestes sur Mer”, em 3 volumes publicados em Paris. E só em 1811 apareceu uma publicação semelhante em Inglaterra. Além de inaugurar a publicação deste tipo de literatura, a obra de Gomes de Brito possui também outra característica única, a de apenas se referir aos naufrágios portugueses, conferindo à publicação uma unidade que as suas congéneres francesa e inglesa não possuem. De acordo com Barbosa Machado, o autor planeou a publicação de um total de 5 volumes dos quais apenas sairam os dois primeiros. Por vezes é junto à colecção de Gomes de Brito um “terceiro volume” com relações compostas por folhetos impressos individualmente e que variam no número. Inocêncio apresenta uma entrada separada chamando-lhe “Coleção dos Naufrágios” (cf. Inocêncio, v.2, p. 91). Na verdade este “terceiro volume” não é mais do que a encadernação de folhetos avulsos e, de acordo com a investigação realizada por Boxer, apenas 6 deles possuem um valor e estilo literário semelhante à compilação de Bernardo Gomes de Brito. (cf. Boxer, pp.77-89). Para terminar, a lista das relações incluídas na compilação. O tomo 1.º com os seguintes títulos: 1. Relação da mui notavel perda do galeão grande S. João, em que se contam os grandes trabalhos e lastimosos successos do Capitam Manuel de Sousa de Sepulveda, 1552 – impressa pela primeira vez em 1554; 2. Relação da viagem que fez Fernão Alvares Cabral, até que se perdeu no Cabo de Boa Esperança, por Manuel de Mesquita Perestrello, 1554 – reimpressão da edição de 1564; 3. Relação do naufragio da nau Conceição, de que era Capitão Francisco Nobre: por Manuel Rangel, 1557; 4. Relação da viagem e successos que tiveram as naus Aguia e Garça, vindo da India, pelo P. Manuel Barradas, 1559; 5. Relação do naufragio da nau Sancta Maria da Barca, de que era Capitão D. Luis Fernandes de Vasconcellos, 1559; 6. Relação da viagem e naufragio da nau S. Paulo, que foi para a India, por Henrique Dias, 1560. No tomo 2.º: 1. Relação do naufragio que passou Jorge de Albuquerque Coelho, vindo do Brasil, por Bento Teixeira Pinto, 1565 – primeira edição de 1601; 2. Relação do naufragio da nau S. Tiago, e itinerario da gente que d’ella se salvou, por Manuel Godinho Cardoso, 1585 – impressa em 1602; 3. Relação do naufragio da nau S. Thomé na terra dos Fumos e trabalhos que passou D. Paulo de Lima Pereira, por Diogo do Couto, 1589; 4. Relação do naufragio da nau Sancto Alberto no penedo das Fontes por João Baptista Lavanha, 1593 – Tinha sido impressa em 1597; 5. Relação da viagem e successos da nau S. Francisco, em que ia por Capitão Vasco da Fonseca, pelo P. Gaspar Affonso, 1596; 6. Tractado das batalhas e successos do galeão S. Tiago com os hollandezes na ilha de S. Helena, por Melchior Estaço do Amaral, 1602 – impressa pela primeira vez em 1604. bib: Inocêncio, v.1, p. 377; Barbosa, v.1, p.532; Samodães, 1416; Sabin 27754; BOXER, C.R., “An Introduction to the História Trágico-Marítica” in From Lisbon to Goa, 1500-1750, Studies in Portuguese Maritime Enterprise, London, Variorum Reprints, 1984, secção V.

 

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