fbpx

Da Bibliografia que Usamos

Hoje é dia de falar sobre bibliografia.

Tempos houve em que uma parte das estantes dos livreiros tinha afixado o aviso “Bibliografia. Não se vende.” Na Ecléctica, era uma estante inteira numa das salas interiores. Na Livraria Campos Trindade, do saudoso Tarcísio Trindade e depois do seu filho Bernardo, eram as prateleiras superiores de quase todas as estantes. Na Livraria Olisipo, de José Vicente, uma estante por trás da sua secretária ao fundo da loja. Em todas, de maior ou menor dimensão, mais escondidas ou menos, a Bibliografia fazia parte integrante das livrarias alfarrabistas e estranhar-se-ia se não houvesse.

Com os novos recursos disponíveis na internet, essas bibliografias parecem ter passado por uma fase de diminuição de importância ou caído numa espécie de esquecimento. É verdade que algumas passaram a ter uma função mais histórica, como fontes importantes para a história do livro, e menos útil para profissionais e bibliófilos. Lembramo-nos, por exemplo, da Bibliografia Geral de Manuel dos Santos ou catálogos de leilões como os de Azevedo-Samodães ou do Conde do Amealcujo rigor nas descrições foram instrumentos importantíssimos no nosso trabalho, mas que hoje facilmente se substituem pelos catálogos digitais das principais Bibliotecas do mundo disponíveis na internet. No entanto, a Bibliografia impressa continua a ter um papel importante no exercício da nossa profissão.

Quais são, então, as bibliografias que usamos na Ecléctica Leilões? Não podendo ser exaustivos, escolhemos quatro exemplos.

 

Dicionário Bibliográfico de Inocêncio e Biblioteca Lusitana de Barbosa Machado

É incontornável. Fazemos parte de um pequeníssimo grupo de países que têm na sua história nomes como o de Inocêncio ou Barbosa Machado. Se há noutros países dicionários bibliográficos — Palau ou Brunet, só para citar alguns — nenhum tem as características dos nossos. Além das descrições dos títulos de cada autor, os nossos possuem uma pequena (por vezes não tão pequena) biografia de cada autor e comentários para muitos dos seus títulos. Se a obra é de autor português, Inocêncio ou Barbosa Machado serão consultados.

Como são obras de domínio público, encontrará digitalizados e disponíveis para descarregar a maioria dos volumes de Inocêncio e a totalidade da obra de Barbosa Machado. Por aqui, não só, mas também por uma questão prática, continuamos agarrados ao papel que, devido ao formato das versões digitais, é mais fácil e rápida de consultar. (Veja, por exemplo, no Internet Archive – https://archive.org/).

 

Livros Antigos Portugueses, El-Rei D. Manuel II

Infelizmente, não são muitas as oportunidades que temos de o usar — não são muito os livros portugueses do século XVI que nos aparecem para vender —, mas é obrigatório, especialmente nas entradas dos dois primeiros tomos. E quando não há oportunidade, na Ecléctica gostamos de folhear o catálogo da Biblioteca de D. Manuel II. É um verdadeiro colosso.

Se tem, quer ter ou é um simples curioso da história da impressão em Portugal até 1600, este é um catálogo obrigatório.

A Fundação da Casa de Bragança tem disponível os três volumes, aqui → https://www.fcbraganca.pt/biblioteca/biblioteca-digital/

 

Encyclopedia of Exploration, Raymond John Howgego

É uma obra de referência desde o início da sua publicação. Em especial o primeiro volume, que se ocupa das viagens de exploração até 1800, tem imensas entradas directa ou indirectamente relacionadas com Portugal. Se gosta e colecciona livros de viagens é um título obrigatório.

Em virtude da venda da Biblioteca Particular que desde 2012 temos estado a apresentar, é obra à qual recorremos amiúde.

Julgamos que já não está disponível no editor, mas é possível encontrar exemplares à venda no mercado internacional. Aqui, o site oficial → https://www.hordern.com/explorers-encyclopedia/index.php

 

Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX, Daniel Pires

Outro legado. É um trabalho de fôlego, de horas e horas de consulta, pesquisa, leitura atenta e seriação. Organizado em dois volumes, o primeiro ocupando-se das publicações de 1900 até 1940 e o segundo, dividido em dois tomos, de 1941 a 1974, descreve com detalhe as revistas literárias portuguesas que se conhecem publicadas naqueles anos.

Claro que lá estão PresençaOrpheuSeara Nova ou Athena. Mas também estão as mais efémeras e desconhecidas. Seja coleccionador de revistas onde colaborou o seu autor favorito, seja coleccionador de revistas de um determinado período, este é uma aquisição obrigatória.

Julgamos já não estar disponível, mas certamente encontrará no seu alfarrabista de eleição.

 

São muitíssimas mais as obras que consultamos para lhe proporcionar verbetes com a maior qualidade possível. Hoje, mais do que antes, recorremos muitas vezes a publicações monográficas. A Biblioteca Nacional, por exemplo, tem publicado várias e muito interessantes bibliografias disponíveis em formato digital ou em “print on demand”.

O importante é munir-se das bibliografias que precisa de acordo com a temática da sua Biblioteca. Se precisar de ajuda na procura da bibliografia adequada, teremos todo o prazer em ajudar.